Querida amiga,
Hoje é o meu primeiro
dia de diarista. Quero dizer, meu primeiro dia escrevendo este diário e vou
imaginar que você seja uma amiga que eu nunca vi mais gorda. Brincadeirinha,
você deve ter sido sempre ótima, mesmo com esse peso. Ai! Acho que pisei na
bola outra vez...
Mas vamos lá: meu nome
é Laura Loft -- acho que é assim que se começa um diário. As pessoas na
Internet costumam começar apresentando-se assim: “É difícil falar de mim
mesma...”. Depois elas escrevem cinco laudas de texto com adjetivos do tipo “simpática,
alegre, amiga, linda e modesta”. O texto termina dizendo “não gosto de pessoas
falsas e mentirosas”. Quer saber? Eu também sou assim.
Trabalho muito e ganho pouco no consultório do Dr. Perônio. O que faço? Bem, fui contratada como assistente, mas o que menos faço é assistir TV. A verdade é que faço de pouco um tudo, desde abrir a porta do consultório e desligar o alarme de manhã, até ligar o alarme e trancar a porta à tarde. Entre uma coisa e outra, só dá a Laura Loft no pedaço.
Trabalho muito e ganho pouco no consultório do Dr. Perônio. O que faço? Bem, fui contratada como assistente, mas o que menos faço é assistir TV. A verdade é que faço de pouco um tudo, desde abrir a porta do consultório e desligar o alarme de manhã, até ligar o alarme e trancar a porta à tarde. Entre uma coisa e outra, só dá a Laura Loft no pedaço.
Sou solteira, não bebo
e nem fumo... pouco. Idade? Deve ser mulher perguntando, porque se fosse um
cavalheiro nunca iria querer saber a idade de uma dama, só a data do
aniversário. Digamos que eu já saí da adolescência e ainda não desfrutei da
alegria da aposentadoria.
Gosto de tudo que meu amor
gostar. Só não posso dar uma lista aqui porque primeiro preciso ter certeza de
que ele gosta de mim. E antes disso preciso saber quem é ele. Isso mesmo,
querida, eu ainda não sei. Mas sei que em algum lugar deste planeta de mais de
sete bilhões de pessoas existe o outro pé para este sapato -- minha alma gêmea,
o botão que falta em minha blusa, o aplicativo inédito do meu iPhone.
Não faz muito tempo eu
adorava fazer as unhas no trabalho, mas muita coisa mudou nos últimos dias, e é
disso que pretendo falar neste diário. Menina, você já viu como é complicado
fazer as unhas no trabalho? A recepção era muito escura e mal dava para
enxergar. Eu já nem sabia se o esmalte era roxo ou preto. Depois que a lâmpada
do teto queimou eu dependia do abajur lá do canto. Era só eu começar a pintar
as unhas e um cliente do tamanho de um guarda-roupa decidia ficar entre o
abajur e minha mesa. Já viu “Eclipse”? Eu via quase todos os dias.
Para complicar, quando
ficava nervosa dava uma vontade louca de fumar. Imagine a cena: cigarrão no
canto da boca, olhos defumados, e tateando as unhas com o pincel de esmalte
tentando adivinhar onde acabava a unha e começava a carne. Tudo por causa da
balada.
Não contei? Eu não
perdia a balada por nada. Por que você acha que eu vinha trabalhar de bobs? Eu
parecia um guarda britânico, daqueles que usam capacete peludo. É que o único
lenço que tinha para cobrir os bobs era um cachecol de lã. A cor? Preta. Sabia
que na Inglaterra o apelido dos policiais é “bobbies”? Foi um amigo que me
contou, porque se depender de mim, o mais perto que cheguei da Inglaterra foi
quando visitei uma amiga no bairro dos Ingleses, em São Paulo.
O difícil de fazer as
unhas no escuro era que de vez em quando eu precisava parar porque descobria
que tinha uma cutícula ou um fiapo de unha mal cortada. Aí a tesourinha e a
lixa ficavam lambuzadas de esmalte. Precisei comprar outra lixa porque a minha
já estava igual paleta de pintor.
Para complicar as
coisas o telefone tocava sempre na hora e eu ficava sem mãos para atender. Para
falar a verdade, sem os pés também, porque os meus estavam com as unhas frescas
e separadores entre os dedos. Sabe como é, aqueles de borracha que parecem
feitos para os dedinhos não conversarem enquanto o esmalte seca.
O que fazia com o
telefone? Deixava tocar, porque eu era só uma, meu bem. E tocava, tocava,
tocava... até que o guarda-roupa decidia ficar de perfil e eu conseguia
enxergar minhas unhas. Mas aí o Dr. Perônio dava o maior berro lá de dentro do
consultório e eu era obrigada a atender. Só mesmo o berro do Dr. Perônio para
me fazer atender. Por aí você já pode ter uma ideia do tipo de recepcionista
que eu era.
Um dia aconteceu assim.
Eu estava sossegada pintando minhas unhas, quando o telefone tocou, o Dr.
Perônio berrou, e eu atendi. Mas foi só eu atender, com o maior cuidado para
não pintar de esmalte o telefone, que a confusão tomou conta do lugar. Bati o
cotovelo no vidro de acetona, que tombou e... adivinhe onde! Em meu colo! Sim,
cento e cinquenta mililitros de acetona bem na minha saia nova!
Quando a gente fala em
mililitros parece coisinha de nada, mas experimente derramar esse tanto de
acetona na saia e você vai sentir o drama. Já viu perna com estampa igual a uma
tatuagem colorida? A minha ficou assim, a mesma estampa que saiu da saia e
deixou um buraco no lugar. Se fosse só a saia o prejuízo seria meu, mas como
desgraça pouca é bobagem, a maldita respingou para todo lado. Furou o carpete e
estragou as revistas que estavam no chão.
O pior é que esta
descrição que estou fazendo aqui foi a mesma que eu fiz aos berros, com o
telefone na mão e o cliente ouvindo tudo do outro lado. Já pensou? O infeliz
que ligou naquela hora provocou a maior tragédia. Furou minha saia, furou o
tapete, furou até a balada.
Aí a voz mais linda do
mundo -- porque até com acetona na saia eu não deixo de reparar nisso -- pediu
desculpas. Pode uma coisa dessas? O carinha ligou, ouviu minha locução do jogo
“Acetona 10 X Laura 0” e ainda pediu desculpas!
Disse que só queria
marcar uma consulta porque não estava se sentindo bem! Não deixei por menos.
Acho que aquele cheiro de acetona me deixou doidona, porque fui logo dizendo
umas poucas e boas para o dito cujo! O que eu disse? Bem, é assim que começa
minha história, mas vamos colocar as coisas em um estilo mais dramático, bem
tipo novela das oito. Vou escrever tudinho, até o que conversei ao telefone.
Então vamos voltar um pouco a fita para você saber como foi realmente a
tragédia da acetona.
Recapitulando, o
telefone tocou, eu me atrapalhei para atender, derramei a acetona na saia e no
carpete e comecei a berrar como louca, sem perceber que já tinha atendido a
ligação e estava com a boca no fone.
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2 comentários:
hahahahahahahaha gostei!
Mario você tem uma mentalidade muito fértil, amei o texto, muito legal mesmo e...se...precisar de uma secretaria, estou aqui. Tudo bem que moro em São Luis, mas uma boa secretaria hoje em dia está difícil de arrumar.......kkkkkk Abração! Ivana Guimarães
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